Debate com as Equipes de Saúde da UBS Forquilhas de São José no mês de Outubro "Outubro Rosa" com esclarecimentos sobre o Câncer de Mama, estratégias para detecção precoce, exames de imagem, auto-exame.
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segunda-feira, 28 de outubro de 2013
TOXOPLASMOSE
Vou postando assuntos que considero relevantes e que apresentam-se como desafios diários para o obstetra. Como há várias dúvidas sobre esse importante tema, espero assim melhor informar as gestantes. Especial atenção deverá ser dada no final deste assunto: Medidas de Prevenção.
Toxoplasmose
A toxoplasmose
é uma zoonose causada pelo protozoário Toxoplasma gondii ,
um parasita
intracelular obrigatório. A infecção possui distribuição geográfica mundial e
alta
prevalência sorológica. No entanto, 90% das infecções são assintomáticas e os
casos
de doença
clínica são menos frequentes. Todavia, o grande impacto sanitário da
toxoplasmose
humana é o
acometimento fetal, durante a gestação, cujas repercussões clínicas são
extremamente
graves com quadros principalmente neurológicos e oculares.
A mãe, ao
infectar-se pela primeira vez durante a gestação, pode apresentar uma
parasitemia
temporária e
infectar o feto, com danos de diferentes graus de gravidade, dependendo da
virulência da
cepa do parasita, da capacidade da resposta imune da mãe e do período
gestacional em
que a mulher se encontra.
Ciclo
Biológico
Felinos
jovens, não imunes, infectam-se por meio da ingestão de presas contendo
cistos
teciduais ou ao ingerirem oocistos esporulados de ambientes contaminados. São
considerados
hospedeiros definitivos ou completos, pois, em seu epitélio intestinal ocorre
o ciclo
sexuado do parasita, com a eliminação de milhões de oocistos nas fezes que
contaminam o
meio ambiente.
Transmissão
A infecção
pelo T. gondii pode ocorrer por três vias principais:
Fecal-oral:
ingestão de oocistos eliminados nas fezes de gatos, presentes na água
contaminada,
no solo, areia, frutas e verduras. Os oocistos podem ser disseminados pelo
ambiente por
meio de baratas, moscas e formigas. Cães com hábito de se esfregar em fezes
de gatos podem
ter seus pelos contaminados com oocistos;
Carnivorismo:
pelo consumo de carnes e produtos de origem animal (principalmente de
suínos,
caprinos e ovinos) crus ou mal cozidos contendo cistos teciduais;
Transplacentária:
via circulação materno-fetal, com a passagem de taquizoítas presentes,
em grande
número, na circulação materna durante a fase aguda da infecção.
Aspectos
Clínicos
As
manifestações clínicas mais comuns são a linfadenopatia (mais comumente, um
único nódulo
cervical posterior aumentado) e a astenia sem
febre. A linfadenopatia pode ocasionalmente vir
acompanhada de
febre, mal-estar, cefaleia, astenia, mialgia, exantema máculo-papular,
odinofagia e
hepatoesplenomegalia. Estes sintomas geralmente duram algumas semanas,
porém, a
adenomegalia e hepatoesplenomegalia podem durar meses.
Devido à
semelhança dos sintomas, deve ser realizado o diagnóstico diferencial com a
mononucleose
infecciosa e com a citomegalovirose.
Vários estudos
demonstraram que o risco de infecção fetal aumenta com a idade gestacional,
porém, a
gravidade das sequelas diminui com ela, sendo as formas subclínicas neonatais
próprias da
infecção no terceiro trimestre da gestação.
Portanto, a gravidade é inversamente
proporcional
ao tempo de gestação e a facilidade de transmissão é diretamente proporcional
ao
mesmo tempo.
Alguns autores
consideram que o período gestacional mais crítico ocorre entre a 10ª e 26ª
semanas,
momento em que a placenta já é grande para se infectar e, ao mesmo tempo, o
feto é imaturo
e pode sofrer danos importantes.
Patogenia da
toxoplasmose congênita
Como resultado
da infecção intrauterina, a toxoplasmose neonatal varia em severidade no
quadro clínico
apresentado, do assintomático ao fatal.
Na maioria das
vezes, no momento do nascimento, as infecções congênitas são
assintomáticas,
porém, podem apresentar sequelas que se manifestam em algum momento
da vida,
principalmente complicações oculares e do sistema nervoso central. Muitos casos
de
retinocoroidite têm como causa a toxoplasmose congênita.
Diagnóstico
materno
Assim como em
adultos imunocompetentes, mulheres grávidas são frequentemente
assintomáticas
ou apresentam sintomas leves, tornando o diagnóstico clínico difícil,
fazendo com
que os exames laboratoriais sejam importantes para o diagnóstico definitivo
da infecção
materna.
A determinação
do período em que a infecção ocorreu na gestante é importante pois a
infecção antes
da concepção apresenta baixo risco de transmissão para o feto, ao contrário
do que ocorre
quando a primoinfecção ocorre durante a gravidez.
Diagnóstico
clínico: é pouco fidedigno, pois os sintomas, quando referidos, são
inespecíficos
e semelhantes a um quadro gripal. A linfadenomegalia e a febre são as queixas
mais
frequentes e podem estar acompanhadas de cefaleia, coriza, mialgia e astenia.
Cerca
de 80 a 90%
dos casos são assintomáticos , o que torna o diagnóstico basicamente
sorológico.
Diagnóstico
laboratorial: os métodos indiretos, baseados na pesquisa de anticorpos
específicos
anti-T. gondii, são os mais utilizados para o diagnóstico da toxoplasmose. As
curvas de
ascensão e queda de títulos dos anticorpos específicos de diferentes isotipos
(IgM, IgA, IgE
e, principalmente, IgG) obedecem ritmos diversos e refletem a evolução da
infecção.
Anticorpos
específicos da classe IgM positivam-se em 5 a 14 dias após a infecção, ainda na
vigência da
parasitemia observada nas primeiras semanas da primoinfecção, atingem níveis
elevados em um
mês e podem permanecer positivos por 18 meses ou mais. Anticorpos
específicos da
classe IgG aparecem dentro de uma a duas semanas, atingem o pico máximo cerca
de dois meses
após a infecção, declinam cinco a seis meses depois e podem ser detectados pelo
resto da
vida.
A presença de
anticorpos IgG específicos indica que a infecção ocorreu, mas não distingue
infecção
recente de uma infecção adquirida há mais tempo ou infecção latente. A obtenção
de IgG
reagente e IgM não reagente indica uma infecção há pelo menos seis meses.
A detecção de
anticorpos IgM específicos para T. gondii era usada para determinar a infecção
aguda;
entretanto, devido ao aumento da sensibilidade dos métodos de diagnóstico
atualmente
disponíveis, a interpretação de resultados com IgM reagente tornou-se
complicada,
pois esses anticorpos podem ser detectados por um período maior que 18
meses após a
infecção, sendo denominados anticorpos IgM residuais.
Diagnóstico
Resultados de
IgM reagentes devem ser interpretados cuidadosamente e confirmados, por
meio de testes
sorológicos com amostras pareadas, coletadas com intervalo de 15 dias,
para determinação
da curva de ascensão dos títulos de anticorpos, principalmente de IgG,
ou por meio de
testes específicos como o de avidez de anticorpos IgG.
O teste de
avidez de anticorpos IgG baseia-se na maior força das ligações iônicas entre
antígeno
e anticorpo nas infecções antigas, quando
comparadas com infecções recentes. Em
qualquer
resposta imunológica primária, os anticorpos
desencadeados por um estímulo antigênico,
inicialmente,
apresentam baixa avidez. À medida que a resposta imunológica ocorre, os
anticorpos da
classe IgG apresentam avidez cada vez maior. Este teste é de grande valor na
diferenciação
de infecção crônica (ocorrida há mais de quatro meses), na qual se apresenta
elevada, da
infecção recente (ocorrida há menos de quatro meses), cuja avidez apresenta-se
baixa.
Para o
diagnóstico em gestantes, o método de avidez de anticorpos IgG é muito útil
quando usado
no início da gestação (até 16 semanas de gestação), pois um resultado de
alta avidez no
segundo ou terceiro trimestre não descarta infecção adquirida no primeiro
trimestre.
Valores intermediários devem ser analisados com cautela e, em casos duvidosos,
deve-se tratar
a gestante. Assim, o teste de avidez de IgG é recomendado para mulheres
que realizam a
primeira sorologia antes de 16 semanas de gestação e apresentarem IgM
reagente.
Como as
gestantes soronegativas são suscetíveis à primoinfecção pelo T. gondii, é
necessário
o
acompanhamento sorológico periódico até o momento do parto a fim de detectar a
soroconversão
materna. Com esta estratégia, pode-se detectar a mudança para o estado
de
sororreatividade que proporciona uma informação segura da infecção e do período
de
aquisição e,
portanto, confirma se o neonato pode ser considerado de risco.
Diagnóstico
Fetal
Embora alguns
questionamentos tenham sido levantados nos últimos anos, a respeito
do tratamento
profilático da toxoplasmose para a prevenção da transmissão para o feto
com a
utilização da espiramicina, parece não haver dúvidas de que o tratamento dos
fetos
infectados com a associação de sulfadiazina e pirimetamina é capaz de diminuir
a
incidência de
sequelas nessas crianças. No entanto, segundo alguns autores, devido aos
efeitos
nocivos do uso contínuo, tais drogas deveriam
ser utilizadas somente em gestantes com
diagnóstico fetal
comprovado.
Avanços
recentes no conhecimento do genoma do T. gondii tornaram possível a utilização
da reação em
cadeia da polimerase (PCR) para amplificação do ácido nucleico do T. gondii
e assim,
possibilitar a detecção do parasita, mesmo quando presente em baixos níveis de
parasitismo. Por ser rápida e simples, a técnica de PCR
pode ser realizada no líquido amniótico.
A
ultrassonografia mensal é recomendada para todas as gestantes com diagnóstico
suspeito
ou confirmado
de toxoplasmose aguda. Os achados ultrassonográficos são sugestivos, mas
não confirmam
a toxoplasmose congênita, e incluem dilatação ventricular uni ou bilateral,
ascite,
calcificações intracranianas ou intra-hepáticas, hepatomegalia e
esplenomegalia.
Assim, na
impossibilidade de realização do diagnóstico fetal, deve-se fazer o tratamento
com
pirimetamina e sulfadiazina a partir da 18a semana de gestação, pois a
toxoplasmose
congênita pode
causar danos graves ao feto.
Tratamento
materno
As drogas mais
utilizadas no tratamento da toxoplasmose são:
Espiramicina:
é indicada no primeiro trimestre da gestação para o tratamento de gestantes
com infecção
aguda, devido ao fato de não atravessar a barreira placentária e, portanto,
não oferecer
risco iatrogênico para o feto.
Esquema
tríplice: a combinação de sulfadiazina e pirimetamina, associada ao ácido
folínico,
é indicada
para gestantes de idade gestacional superior a 18 semanas. Esta associação deve
ser evitada no
primeiro trimestre da gravidez, devido ao efeito potencialmente teratogênico
da
pirimetamina.
Profilaxia
A profilaxia
deve ser baseada em medidas que reduzam ao máximo o risco de transmissão
da doença,
tendo em vista as três formas do T. gondii relacionadas com a transmissão:
taquizoítas
que podem ser transmitidos congenitamente, por via transplacentária, por
transfusões de
sangue, transplantes de orgãos, acidentes em laboratórios e ingestão de
leite de
cabra; cistos de T. gondii presentes em carnes cruas ou mal cozidas; e oocistos
presentes no
solo, nos vegetais, nos tanques de areia, podendo ser disseminados pelo
ambiente por
hospedeiros transportadores, como moscas, baratas, minhocas e pelo de
cães que se
esfregam em fezes de gato.
A transmissão devido à ingestão de cistos depende
da frequência de ingestão da carne crua ou
mal cozida.
Frenkel (2002) destaca que a eliminação de cistos presentes na carne pode ser
feita
por meio do
cozimento total da carne a uma temperatura acima de 66ºC. Entretanto, o
congelamento
causa uma nítida redução da viabilidade do T. gondii na carne, porém não é
suficiente
para destruir todos os microrganismos.
Os gatos são
hospedeiros fundamentais para a manutenção do ciclo do T. gondii por serem
os únicos que
apresentam todas as fases do ciclo evolutivo do parasita. Os gatos tornam-se
infectados
pela ingestão de cistos presentes em tecidos de animais infectados ou oocistos
no meio
ambiente. A infecção de gatos por meio da ingestão de cistos é muito
importante,
principalmente
para os gatos de rua ou gatos domésticos que possuam hábitos de caçar
para se
alimentar. Como esses animais defecam no solo sem seres vistos, a contaminação
dificilmente é
controlada.
No entanto, os
gatos eliminam oocistos uma única vez na vida e a excreção é limitada a
poucas
semanas. Além disso, os oocistos infectantes dificilmente ficam aderidos ao
pelo do
animal, pois
estes os removem antes deles se tornarem infectantes. Assim, ter um gato em casa
não
necessariamente fornece um risco de contrair a toxoplasmose se medidas
preventivas
forem tomadas
como não alimentá-los com carnes cruas ou mal cozidas, remover suas fezes
diariamente e
impedi-los de caçar.
A areia e o
solo contaminados por fezes de gatos infectados são importantes e duradouras
fontes de
contaminação, sendo de difícil erradicação. As moscas e as baratas também devem
ser
controladas já que têm servido como vetores experimentais de oocistos.
Medidas de prevenção da infecção por oocistos
presentes no solo, água e alimentos:
▪ Alimentar
gatos com ração ou carne bem cozida, não alimentá-los com carnes cruas
ou mal
cozidas.
▪ Cuidado na
manipulação de terra - usar luvas ou lavar bem as mãos após manipular
a terra.
▪ Lavar bem as
frutas e vegetais com água corrente, esfregando mecanicamente.
▪ Limpar,
DIARIAMENTE, as caixas sanitárias dos gatos – gestantes não devem realizar
esta tarefa.
Peça para outra pessoa retirar as fezes do animal diariamente.
▪ Controlar
moscas e baratas.
▪ Proteger as
caixas de areia em áreas de recreação infantil para que gatos não
defequem
nelas.
▪ Ingerir
apenas água tratada ou fervida.
Medidas de prevenção da infecção por cistos presentes
na carne:
▪ Ingerir
carne bem cozida (67º C por 10 minutos).
▪ Ingerir
embutidos frescais bem cozidos ou salgados (2,5% de sal por 48 horas).
▪ O
congelamento dos produtos cárneos eliminam a maioria dos cistos teciduais (-
18ºC por 7
dias).
▪ Lavar as
mãos e a superfície de preparação (tábuas e facas) após manusear carne crua.
▪ Não
experimentar carne crua.
▪ Leite de
cabra deve ser fervido ou pasteurizado antes do consumo.
▪ Realizar
monitoramento sorológico e tratamento da gestante para evitar a transmissão
e diminuir as
sequelas na criança.
▪ Ingerir
carne bem cozida (67º C por 10 minutos).
▪ Não
experimentar carne crua.
▪ Congelar
produtos cárneos (- 18º C por 7 dias).
▪ Ingerir
embutidos frescais bem cozidos .
▪ Lavar, com
água e sabão, os utensílios (faca, tábua) utilizados no preparo de carnes.
▪ Lavar bem as
frutas e verduras, esfregando em água corrente.
▪ Proteger os
alimentos de moscas e baratas.
▪ Ingerir
apenas água tratada ou fervida.
▪ Ferver e
pasteurizar leite de cabra antes do consumo.
▪ Lavar as
mãos após mexer na terra ou areia.
Se tiver gato:
▪ Não o
alimente com carne crua .
Quanto à
gestante, é importante que os testes sorológicos para pesquisa de anticorpos
específicos
anti-T. gondii sejam realizados na primeira consulta de pré-natal e, caso a
gestante não
apresente estes anticorpos, além de repetir a sorologia no segundo e terceiro
trimestre de
gestação, deve receber orientações sobre as medidas preventivas.
A efetiva
prevenção da toxoplasmose congênita consiste na prevenção da infecção durante
a gestação.
Estudo realizado na Bélgica demonstrou que a educação em saúde estava associada
a uma redução
de 63% de soroconversão materna. Em outro estudo, realizado na Polônia,
observou-se
que o conhecimento sobre os fatores de risco de infecção pelo T. gondii quase
dobrou em
quatro anos de educação em saúde.
Os países que
possuem um programa de prevenção da toxoplasmose congênita apresentam
uma baixa
prevalência da doença, confirmando a importância da prevenção da infecção
em gestantes.
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